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Você acredita que as punições as torcidas trarão o fim da violência? |
Diante desse fato, o Projeto Toppaz (Torcida Organizada Pela Paz) deseja, democraticamente, expor algumas razões pelas quais não acredita na eficácia de tal medida[Nota de rodapé]:
O estudioso Rodrigo de Araujo Monteiro, mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em sua obra Torcer, lutar ao inimigo massacrar (Rio de Janeiro: FGV, 2003, p. 87-88), demonstra, fundamentado em pesquisas de campo, que apenas impedir o torcedor de entrar caracterizado no estádio é insuficiente para reduzir os conflitos entre as torcidas rivais, pois os torcedores, ainda que à paisana, ficam se provocando violentamente do mesmo modo que faziam caracterizados. Em outras palavras, os causadores de atos violentos são algumas pessoas e não suas vestimentas.
Daí as perguntas: não seria melhor fazer valer o artigo 13-A, incisos IV e V, do tão criticado e desconhecido Estatuto do Torcedor[Nota de rodapé], que proíbe ofensas recíprocas em cartazes ou letras de músicas, do que descaracterizar as torcidas? Se descaracterizar torcidas nada resolve, conforme está comprovado, por que se insiste nessa prática?
Outro ponto seriíssimo: se entre os torcedores caracterizados, as autoridades já não conseguem identificar os poucos baderneiros[Nota de rodapé] e, por isso, punem uma Torcida inteira por erro de alguns, como farão os agentes da segurança pública se houver problemas (e há) dos descaracterizados entre si?
São questões que o bom senso e a ciência colocam às autoridades que suspendem Torcidas de irem caracterizadas aos estádios. Descaracterizar o torcedor nunca foi e nem será solução para a violência[Nota de rodapé].
A solução é: trabalhar pela formação dos membros de organizadas para que se respeitem mutuamente no dia a dia e nos eventos esportivos; que os presidentes, independentemente da rivalidade, dialoguem entre si (e cada um com a sua torcida) e acertem a ida e a volta dos visitantes e a permanência deles no estádio na PAZ; depois, caso alguns torcedores não cumpram o que é norma básica da civilização, viriam as punições aos baderneiros dentro da própria Torcida (suspensão ou expulsão) e, por fim, da parte do Estado que aplicaria sanções individuais (inclusive a diretores ou presidentes que acobertam os estúpidos). Esse parece ser o caminho correto, mas por que será que não é percorrido? A quem interessa promover medidas caóticas que só parecem aumentar – e não diminuir – as chances de confusão nos dias de jogos?
A propósito dessa medida totalmente inócua e de outras semelhantes, escreve o Dr. Ronaldo Batista Pinto, promotor de Justiça e Mestre em Direito pela UNESP: “Tais propostas [de impedir o uso da camisa ou de propor torcida única], caso aprovadas, acabariam por retirar todo o brilho do espetáculo, transformando em insossa apresentação, desprovida do encanto propiciado pela participação da torcida. De resto, atestariam a mais absoluta ineficácia do Estado, incapaz de fazer frente à violência, rendido ao poder dos baderneiros, impotente mesmo de cumprir com suas mais comezinhas obrigações, consistente em dar segurança ao cidadão. Só faltaria mesmo propor a realização de partidas com portões fechados. Melhor que, munido de legislação adequada, a ser eficazmente aplicada, o Estado possa assegurar o direito de todo aquele que pretenda, única e exclusivamente, assistir uma partida de futebol, vibrando livremente por sua equipe de predileção[Nota de rodapé]” (Estatuto do Torcedor comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 105 – grifo nosso).
Uma medida que, talvez, seria eficaz é proibir (e fazer valer a proibição[Nota de rodapé]) alguns torcedores envolvidos em confusão e devidamente identificados pela Polícia de irem aos jogos, sem prejuízos à torcida[Nota de rodapé]. Ponto correto, pois atinge a pessoa e não a instituição toda que pode não ser culpada pelo ato isolado de alguns poucos vândalos.
Fazemos votos para que a medida inócua seja revista e que as próprias torcidas organizadas estabeleçam metas sérias para a PAZ entre elas, mantendo apenas a sadia rivalidade. De nossa parte, nos dispomos a ajudar com orientações, dentro dos métodos de ação propostos pelo Projeto Toppaz, os responsáveis pelas Torcidas neste quesito tão importante. Eles aceitarão? Se forem de PAZ, sim.
Ao bom e acolhedor povo pernambucano fica o pedido de que não julguem mal todos os membros de uma Torcida, mas, ao contrário, saibam separar bem o joio do trigo entendendo que nesses grupos, como em quaisquer outros, há boas e más pessoas. Estas últimas o Estado deve identificar e punir. Já as que desejam apenas festejar junto ao seu time do coração (e saem perdendo com medidas como a que estamos tratando, pois pagam pelo erro de poucos), o Estado deve, por força constitucional, deixar que façam, dentro da lei e da ordem, sua bela festa nos estádios brasileiros. Eis o nosso cordial e firme alerta a ser lido por todos os interessados no bem comum.
Vanderlei de Lima é graduado em Filosofia pela PUC-Campinas e pós-graduado em Psicopedagogia pela UNIFIA. Com Extensão Universitária em Direito e Punição, pela PUC-Campinas. Pesquisador e autor de livros sobre Torcidas Organizadas.
Fonte: Jovem do Sport.
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